quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A AULA DE FILOSOFIA: DEBATENDO PROPOSTAS PARA O ENSINO MÉDIO


Data: 18 de novembro de 2014 no Local: Auditório do PAT - UFRRJ

Organização:
Alice Bitencourt Haddad (Departamento de Filosofia)
Nelma Medeiros (Departamento de Filosofia)

Programação:
9h - Recepção dos estudantes das escolas - parceiras e "tour" pelo campus;

11h - Exibição do registro das atividades dos bolsistas e encerramento do encontro com os estudantes;

12h - Almoço;

14h - Mesa de discussão: propostas de iniciação à docência;

16h - intervalo;


16:30 - Mesa de discussão: ensino de filosofia na escola
• Prof. Germano Nogueira Prado - Colégio Pedro II;
• Prof. Marcelo Senna Guimarães - UNIRIO;
• Prof. Rafael Barbosa - CEFET-RJ;

18:30 - Encerramento.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Sobre a introdução à história da filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)

Sobre a introdução à história da filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).

Composição: Vinicius Alves Vieira.

Análise da vida e da obra do autor por Henry Thomas e Dana Lee Thomas em Vidas de Grandes Filósofos, Editora: Globo (Rio de Janeiro - Porto Alegre - São Paulo). Ano: 1965. :

“... Nada havia em seu procedimento ou em sua aparência externa que o distinguisse. A essência de sua personalidade residia em sua vida interior.
            Jamais, por um momento, abandonara a atitude mental da família de que descendia. Ao ponderar sobre os elementos desconhecidos na equação da existência, não concluía sua investigação com o dar de ombros dos cépticos. Porque não era como o inglês Locke nem como o escocês Hume. O caráter alemão que nele havia, construíra uma filosofia da fé, e a escrupulosa exatidão que herdara resultou na especulação metafísica mais complicada que o mundo já vira. Era um funcionário público que trabalhava arduamente nos escritórios administrativos da rotina oficial, sob a jurisdição de um deus burocrático.
            O mundo é inteligível, disse Hegel. A razão encontra-se no âmago das coisas, sob a aparente falta de unidade, à superfície. Os cépticos, como Hume, haviam lançado a dúvida no espírito dos homens e criado uma atmosfera de cinismo que produzira aventureiros sem escrúpulos, como Napoleão. Quando o homem perde a fé nos valores da vida humana, a civilização retrocede. Porque a vida é um grande e sistemático esquema da verdade. O homem pode compreender essa verdade através de suas faculdades de raciocínio, mesmo que não a possa apreender por meio de suas faculdades sensoriais. Em outras palavras, lança Hegel, diretamente, um desafio a Hume. Afinal de contas, é possível ao homem conhecer as coisas além de sua experiência através de sua razão. Há dois tipos de razão: a razão prática, que trata com os problemas cotidianos e com objetos sensíveis que têm existência tangível, e a razão abstrata, que trata com ideias além de nossa existência sensória.
            E aí reside a dificuldade da questão – a principal divergência entre cépticos e metafísicos. Afirmam os cépticos que só existem as coisas que podemos apreender por intermédio dos sentidos. Os metafísicos, por sua parte, insistem em que há coisas, além dos sentidos, que têm uma existência igualmente real. Todas as nossas concepções não materiais – declara Hegel – existem tão seguramente como uma mesa ou uma cadeira.
Consideremos, por exemplo, a nossa concepção de quantidade. Temos visto, já, dois lápis, mas nunca vimos a quantidade abstrata, dois. E, no entanto, a concepção abstrata de dois existe na razão, tão seguramente como os dois lápis concretos existem no espaço. Pois sem a existência de uma medida abstrata de quantidade nunca seríamos capazes de distinguir as quantidades concretas das coisas de que tratamos.
            Há, por conseguinte, a razão pura em oposição à razão prática – ou, para dizê-lo de outra maneira, existe uma existência formal em oposição a uma existência material. [...] Esta é a proposição fundamental de Hegel. E sobre essa proposição, edifica ele a sua estrutura filosófica. [...]”.
 Introdução à História da Filosofia, por Hegel:
Na tentativa de sintetizar um pensamento complexo, pois requer, para mínima compreensão, uma incursão no desenvolvimento histórico do próprio conceito de filosofia, Hegel tenta expor nas duas introduções que faz do livro, as relações mais básicas e necessárias para alcançar e compreender “como pelo estudo da história desta ciência somos iniciados no conhecimento da própria ciência”. Seguiremos analisando e comentando os trechos que nos parecem mais relevantes para que possamos iniciarmo-nos,  junto com o autor, em um só tempo o estudo da história da filosofia e o filosofar propriamente dito. A história da ciência filosófica e a ciência filosófica aplicada.
Começamos com o seguinte trecho:
“A história da filosofia representa a série dos espíritos nobres, a galeria dos heróis da razão pensante, os quais, graças a essa razão, lograram penetrar na essência das coisas, da natureza e do espírito, na essência de Deus, conquistando assim com o próprio trabalho o mais precioso tesouro: o do conhecimento racional”. (Segundo parágrafo da segunda introdução à introdução da história da filosofia).
É assim que Hegel define o que representa a História da Filosofia. É dessa maneira também que um dos grandes devotos do Espírito se posiciona em relação ao que considera o mais relevante numa história (neste caso, a da filosofia), “visto que a história dum assunto está intimamente conexa com a concepção que dela se faça”.
O patrimônio da razão autoconsciente que nos pertence não surgiu sem preparação, nem cresceu só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero humano”.
 Hegel percebe toda a produção do homem ao longo dos tempos na história como a herança que se recebe das gerações que nos antecederam, ou seja, “as artes da vida externa, o complexo de meios, de habilidades, de instituições e de hábitos no convívio social e na vida política” nada mais são que “o resultado da meditação e da invenção, das privações, ou de acidentes da sorte, da necessidade e da perícia, do querer e do poder da história na sua evolução até o presente atual”. Conclui o pensador que, “se alguma coisa somos no domínio da ciência e da filosofia, devemo-lo à tradição”.
Não quer deste modo dizer o espírito pensante de Hegel que se deve manter a tradição como uma “estátua de pedra” que se conserva, mas sim o contrário, a tradição é herança viva que “continuamente se vai enriquecendo com novas contribuições, à maneira de rio que engrossa o caudal à medida que se afasta da nascente”. Ao mesmo tempo em que tal herança pode simplesmente degradar-se e chegar ao ponto de “servir de matéria para ser transformada e elaborada pelo espírito. Desta maneira se vai modificando o patrimônio herdado, e simultaneamente se enriquece e conserva o material elaborado”.
Hegel considera o conteúdo da tradição a própria forma de tudo o que o mundo espiritual produziu. E o espírito universal nunca permanece estacionário. “Ora, é do espírito universal que nos devemos ocupar aqui”. Assevera o autor. “A recepção desta herança equivale ao exercício da posse dela”. Nossa função será compreender a ciência existente, “modelar por ela nossa inteligência, e desse modo desenvolvê-la, elevá-la a um grau superior”. O mundo espiritual preexistente, produto de outros homens, nossos ancestrais, será sempre a base de onde partiremos e desenvolveremos nossa filosofia, futuro produto. Daí se segue que “o curso da história mostra, não o devir de coisas a nós estranhas, mas sim o nosso devir, o devir do nosso saber”.
Da natureza dessa relação entre a história da filosofia e a ciência filosófica dependem as ideias e os problemas que se podem propor relativos ao âmbito da história da filosofia. “Compreender devidamente esta relação permite alcançar como pelo estudo da história desta ciência somos iniciados no conhecimento da própria ciência”. E convém lembrar: “Este devir não é simplesmente um movimento passivo como imaginamos que seja o nascer do sol e da lua, movimento que se efetua sem contrariedade no espaço e no tempo. O que devemos representar ao espírito é a atividade do pensamento livre; devemos representar a história do mundo no pensamento, o processo do seu nascimento e produção”.
O que nos torna mais nobre que outros animais?
Segundo uma antiga opinião, a faculdade de pensar é o que separa os homens dos brutos. Aceitamo-la como verdadeira. O que o homem possui de mais nobre do que o animal, possui-o graças ao pensamento: tudo quanto é humano, de qualquer forma que se manifeste, é-o na medida em que o pensamento age ou agiu. Mas sendo o pensamento o essencial, o substancial, o efeitual, dirige-se a objetos muito variados; pelo que importa considerar como mais perfeito o pensamento voltado sobre si mesmo, ou seja, sobre o objeto mais nobre que pode buscar e encontrar”.
Hegel segue retificando seus argumentos fundamentais para representar uma história da filosofia, o que não é um processo simples e estático, mas complexo e dinâmico que envolve uma (des)construção de miríades conceituais. Elaborando uma teoria conceitual que visa clarear os usos possíveis e ao mesmo tempo justificar os usos dos conceitos [como: filosofia, história, espírito, ideia, forma, concreto e etc.] que considera necessários ao uso e apreensão do seu próprio conceito de história da filosofia, preocupa-se em validar sob a forma lógica o seu argumento ao propor teoricamente a experiência de pensamento de seu sistema metafísico da unidade, verdade e eternidade. Sua história da filosofia se faz antes pelo modo que se concebe a história e a filosofia.
Encontros no tempo (ano de 1816 no séc. XIX) marcados de discussões, discussões que necessitaram algumas horas de exposição e outras muitas horas de meditação em outros espaços-tempo... Novos encontros em tempo e espaço, retomada e progressão das discussões que necessitariam também novas meditações, e assim sucessivamente, as comunicações proferidas na universidade de Heidelberg constituiriam o conteúdo e o objeto que se materializaram em pouco menos de cem páginas, em forma de livro: Introdução à História da Filosofia, de Georg Wilhelm Friedrich Hegel.
[janela de outras obras do autor: filosofia da lógica, da natureza, fenomenologia do espírito, etc...].
Proposta de Atividades alternativas para pensar o tema:
Filmes (pensar ou copiar sinopses):
- O Mundo de Sofia.
- Sócrates, o filme.
-Santo Agostinho, o filme.         
Questões interativas:
1-     Se fosse preciso (situação hipotética) assumir a posição de Hegel ao considerar numa história “a série dos espíritos nobres, a galeria dos heróis da razão...”, quais nomes apareceriam para representar sua história da filosofia? Fundamente suas escolhas com base nos valores e nos princípios necessários para iniciar a sua história da filosofia, ou seja, como você se posiciona em relação ao que considera o mais relevante em sua história: “visto que a história dum assunto está intimamente ligada com a concepção que dela se faça”.

2-     Sobre as gerações passadas... Podemos pensar a partir do ponto de vista exposto por Hegel, que as gerações de seres humanos que hoje vivem, são parentes físicos e espirituais de todas as gerações que lhes antecederam, e de fato, são. De acordo com sua interpretação das passagens expostas no texto, marque as alternativas que mais parecem estar de acordo ao modo como você lida com as filosofias e as ciências produzidas por estes parentes distantes no espaço e no tempo:

(  ) “(...) A posição e a função de nossa idade, como aliás de todas as idades: compreender a ciência existente, modelar por ela a nossa inteligência, e desse modo desenvolvê-la, elevá-la a um grau superior (...)” (Hegel)
(  )      




                

A Política de Aristóteles.



A Política de Aristóteles
por Rodrigo Santos S. Magalhães

 Citação:
"A sociedade constituída por diversos pequenos burgos forma uma cidade completa, com todos os meios de se abastecer por si, e tendo atingido, por assim dizer, o fim que se propôs. Nascida principalmente da necessidade de viver, ela subsiste para uma vida feliz. Eis porque toda cidade se integra na natureza, pois foi a própria natureza que formou as primeiras sociedades; e a natureza é o verdadeiro fim de todas as coisas. Dizemos, pois, dos diferentes seres, que eles se acham integrados na natureza, quando tenham atingido todo o desenvolvimento que lhes é peculiar. Além disso, o fim para o qual cada ser foi criado, é o ideal de todo indivíduo, e o que de melhor pode existir para ele.
É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que o homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em sociedade, e que, por instinto, e não porque qualquer circunstância o inibe, deixa desfazer parte de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem. Tal indivíduo merece, como disse Homero, a censura cruel de ser um sem família, sem leis, sem lar. Porque ele é ávido de combates, e, como as aves de rapina, incapaz de se submeter a qualquer obediência.
(...)
Na ordem da natureza, o Estado se coloca antes da família e antes de cada indivíduo, pois que o todo deve, forçosamente, ser colocado antes da parte. Erguei o todo; dele não ficará mais nem pé nem mão, a não ser no nome, como se poderá dizer, por exemplo, uma mão além do nome. Todas as coisas se definem pelas suas funções; e desde o momento em que elas percam os seus característicos, já não se poderá dizer que sejam as mesmas; apenas ficam compreendidas sob a mesma denominação. Evidentemente o Estado está na ordem da natureza e antes do indivíduo; porque, se cada indivíduo isolado não se basta a si mesmo, assim também se dará com as partes em relação ao todo. Ora, aquele que não pode viver em sociedade, ou que nada precisa por bastar-se a si próprio, não faz parte do Estado; é um bruto ou um deus."

Texto:
Aristóteles é enfático em sua definição: é vetado ao ser humano viver fora da cidade, ou seja, fora de uma sociedade organizada. Ao menos isso é vetado ao ser humano com todas as suas características identificada por ele como sendo naturais. No entanto, ao invés de firmar meramente a permanência dos seres humanos na cidade, pela incapacidade da vida isolada ou pela necessidade de sobrevivência nesse isolamento e, por isso, se associar aos outros. Ele põe como finalidade última da cidade a vida feliz. Os seres humanos unem-se por necessitar sobreviver, mas permanecem unidos em sociedade por desejar uma vida feliz. Essa felicidade não se resume a uma felicidade individual, uma felicidade solitária, nem mesmo uma felicidade solidária em que todos se empenha pela felicidade alheia. Trata-se de identificar a felicidade como horizonte humano. Todos querem ser felizes e somente poderão ser se viverem em sociedade.
Um dado interessante chama a atenção: diferentemente do que se costuma pensar a relação dicotômica homem x natureza, em que o ser humano a medida que foi se tornando social, foi se afastando do ser natural entregue aos instintos, Aristóteles afirma que os seres humanos vivem em sociedade por força da própria natureza e não contra ela, e mais, as cidades existem naturalmente, precedendo os indivíduos. Isso soa muito estranho, contudo, é preciso compreender o naturalismo aristotélico. Para ele os elementos evoluem do mais simples para o mais complexo, até atingir o perfeito, a plenitude; O todo precede necessariamente a parte; e a finalidade última dos ser humanos é a vida feliz.
Ora, se a primeira associação é a família; se a união de muitas famílias formaram as aldeias (kome); e o agrupamento das aldeias, por fim, forma a cidade (polis) a mais elevada forma de organização. Lembrando que as cidades na Grécia antiga eram verdadeiros Estados, uma espécie de país, tendo suas próprias leis, costumes e organização. Não basta, todavia, ser uma cidade por ser mais complexa, por reunir mais indivíduos etc. É preciso que a cidade seja autárquica, em outras palavras, é preciso que ela comande a si mesma, que não esteja submetida a outra ordem, a outra cidade ou poder. A cidade perfeita constitui um ponto acabado, confundindo-se com a sua própria natureza, e sendo o único lugar possível no qual os seres humanos poderão realizar suas potencialidades, suas aptidões, talentos e inclinações no objetivo máximo que é a felicidade.
Doravante não se findaram as estranhezas. Aristóteles faz-se entender que o Estado tem primazia sobre os indivíduos. O Estado é mais importante que os indivíduos e desse modo, seus interesses vem primeiro. Se cada indivíduo deve buscar sua felicidade, ele deve antes buscar a "felicidade" do Estado, sem o qual a sua vida feliz não se realizará. Há então, um comprometimento com a cidade, com aquilo que é público e por isso de todos. Não há neutralidade, não se pode escamotear seu papel político que está em todas as instâncias da cidade, inclusive no particular. A cidade é entendida por Aristóteles como um organismo em que cada parte deve cumprir seu papel. As diferenças inerentes aos indivíduos não se constituem num problema em si, numa impossibilidade de uma vida social, pois ao passo que cada um trace seu caminho em busca da vida feliz, seja dedicando-se aos ganhos financeiro ou ao trabalho, seja na vida reflexiva ou na vida pública, todos deverão conviver de modo organizado, evitando o desajuste, a barbárie, a tirania e a falência da cidade. Lembremos, é claro, que diferentemente do postulado iluminista de igualdade, Aristóteles reconhece como natural as diferenças entre os indivíduos. Naturalizados as distinções entre cidadão e estrangeiro, entre homem e mulher e entre o senhor e o escravo.
Seja como for, Aristóteles observará as leis como o principal mecanismo a garantir a organização das cidades, e quão melhores forem as leis, menores as chances da corrupção e declínio da cidade, não obstante, embora preferisse a aristocracia como melhor forma de governo, ele reconhece outras formas como sendo válidas, desde que as leis garantam o fim da cidade que é a realização das potencialidades humana e como fim último a felicidade.
Mas uma coisa ainda fica em aberto: será que de fato o ser humano necessariamente um animal político? Será que lhe é vetado a vida fora da cidade? Bem, um monge eremita que se isola para refletir e ter um contato com o divino, só pôde ser um monge eremita por ter antes nascido e vivido em uma cidade. Ao se pensar em isolar-se logo percebe-se que o ser humano não se basta. Carece de outros seres humanos e quando organizados podem completar o que falta uns nos outros. A cidade perfeita é aquela que não carece de nada e somente através dela os seres humanos são pleno. É na cidade e pela cidade que o ser humano é humano.

Eis aí o maravilhoso ardil da natureza. Fez dos seres humanos um animal como os outros animais, mas ao o lhe impelir ao convívio uns com os outros, o transformou no único animal político.

Santo Agostinho- De Magistro (Do Mestre)



Santo Agostinho- De Magistro (Do Mestre)

Vida e obra
Santo Agostinho é uma das figuras mais importante da filosofia medieval, porque seus estudos filosóficos e teológicos tentavam alcançar a harmonia entre essas duas vertentes. Aurélio Augusto (Santo Agostinho) nasceu em Tagaste, Norte da áfrica, no ano de 354 da era cristã. Sua mãe Mônica era uma cristã fervorosa, tornando-se santa padroeira das associações das mães cristãs, seu pai,Patrício,era um proprietário de terras, pagão. Agostinho começa os primeiros estudos em Tagaste e Madaura,seu pai esforçou-se para dar uma educação liberal,pois abriria portas para a magistratura.Foi para Cartago capital da África Romana aos 17 anos para estudar,porém era um aluno que faltava aula sem motivo,e odiava a língua grega,sua adolescência foi marcada por ações desaprováveis. Mas uma união amorosa com uma mulher que os padrões da época não permitiam seria a ação mais desaprovável por todos, desta união nasce seu filho Adeodato que morre em sua adolescência.
Antes dos vintes anos, faleceu seu pai e Agostinho assumiu a chefia de duas famílias, abriu uma escola em Tagaste, mas logo volta para Cartago.Contudo resolveu depois de dez anos ir para Roma, para encontrar alunos mais tranquilos, o que Agostinho não sabia era que estava fazendo a viagem para sua conversão. Quando chegou em Roma, dirigiu-se a Milão para a residência imperial,onde  trabalhou como professor de retórica.
Agostinho vivia buscando resposta para o sentido da vida, com suas crises existenciais e intelectuais, conheceu as concepções da academia platônica com isso o neoplatonismo (O neoplatonismo era visto como uma doutrina que, com ligeiros retoques, parecia capaz de auxiliar a fé Cristã a tomar consciência da própria estrutura interna e defender-se com argumentos racionais, elaborando-se como teologia) e a muito já havia abandonado o maniqueísmos (Maniqueus afirmavam a existência absoluta de dois princípios, o bem e o mal,a luz e as trevas).Sua conversão teria influencia de sua mãe sempre devotada, santo Ambrósio que o ensinou a usar a bíblia de forma correta e São Paulo, pois  Agostinho, quando ouve um canto infantil no seu jardim,o canto era as palavras do apóstolo Paulo(‘tolle,lege,tolle lege),depois disso Agostinho se converte a fé cristã, sua mãe falece alguns meses depois em 387.Santo Agostinho falece no dia 23 de agosto de 430.
Agostinho escreveu 113 obras, mais 270 cartas e 390 sermões, dentre suas obras destacam-se, Contra os Acadêmicos, Solilóquios,Do Livre Arbítrio,De Magistro, Confissões,A Cidade de Deus e as Retratações.
 A obra De Magistro será a que tomaremos como investigação, escrita em diálogo, tem como personagens Santo Agostinho e seu filho Adeodato, onde discutem a questão da linguagem,sobre os objetivos dos signos linguísticos e da fala,onde num primeiro momento refere-se a linguagem humana para depois refletir sobre a linguagem interior.

Trecho
De Magistro
CAPÍTULO XI
Não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente,
mas pela verdade que ensina interiormente.

AGOSTINHO— Até aqui chega o valor das palavras, das quais, porque quero atribuir-lhes muito, direi que apenas incitam a procurar as coisas, sem., porém mostrá-las para que as conheçamos. No entanto, ensina-me algo quem apresentar diante dos meus olhos ou a um dos sentidos do corpo ou também à própria mente as coisas que quero conhecer.
Com as palavras não aprendemos senão palavras; antes, o som e o ruído das palavras, porque, se o que não é sinal não pode ser palavra, não sei também como possa ser palavra aquilo que ouvi pronunciado como palavra enquanto não lhe conhecer o significado. Só depois de conhecer as coisas se consegue, portanto, o conhecimento completo das palavras; ao contrário, ouvindo somente as palavras, não aprendemos nem sequer estas.

Com efeito, não tivemos conhecimento das palavras que aprendemos nem podemos declarar ter aprendido as que não conhecemos, senão depois que lhes percebemos o significado, o que se verifica não mediante a audição das vozes proferidas, mas pelo conhecimento das coisas significadas. Ao serem proferidas palavras, é perfeitamente razoável que se diga que nós sabemos ou não sabemos o que significam; se o sabemos,
não foram elas que no-lo ensinaram, apenas o recordaram; se não o sabemos, nem sequer o recordam, mas talvez nos incitem a procurá-lo.
Portanto, creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço.



Comentário:
O que podemos aprender com a linguagem?
No Livro De Magistro de Santo Agostinho, o filósofo propõe uma discussão acerca da linguagem e dos signos linguísticos, no capítulo XI mais especificamente, Agostinho aponta á impossibilidade de transmitir conhecimento através da linguagem, porque segundo ele, “por palavras não aprendemos senão palavras; antes o som e o ruído das palavras, porque o que não é sinal não pode ser palavra”, ou seja, para entendermos o significado das palavras temos que ter acesso antes ao objeto, e mesmo que conhecemos o objeto, o som não reproduz o seu significado, muito menos a imagem consegue manifestar o significado do objeto, e precisaríamos de outros aparatos  para conhecê-lo, porém, que efeito teria então a linguagem para a constituição de conhecimento de objetos e conceitos de palavras?
Antes devemos pensar se conhecemos o conceito de alguma palavra, como por exemplo: mesa sabemos seu significado, se expressa em outra língua terá o mesmo significado, mas se não entendermos a língua será como ouvir um som sem significado, isso nos faz pensar se o conhecimento parece nos advir mesmo da língua? Contudo a palavra mesa indica um objeto que temos contato e pode ser indicada de alguma maneira a nós por sua forma sensível.
Ao saber disso, podemos acreditar então, que os signos linguísticos as palavras e seus complexos, são formas de expressar as ideias?  As palavras nos possibilita a transmissão de crença ou conhecimento?
Nossos sentidos estão a todo o momento tentando captar evidências exteriores, para que a mente construa interiormente o que chamamos de saber, porém para Agostinho os sentidos são insuficientes para alcançarmos uma reflexão verdadeira de conhecimento, o filósofo diz: não tivemos conhecimento das palavras que aprendemos, nem podemos declarar ter aprendido as que não conhecemos. Teríamos então a possibilidade de conhecer através de aparatos exteriores á mente? Para a grande maioria ensinar e aprender implica em um discurso, onde as informações fornecidas nos levariam á ter conhecimento de algo, porém quando alguém expõe um saber, algumas pessoas, entendem mais rapidamente ou  até melhor do que outras,o que nos leva a pensar, que talvez, além da atenção dada ao discurso, usamos além disso nossas experiências e também conteúdos antes estudados ou ainda que no momento da aprendizagem estamos mais  pré-dispostos a compreender.

Ao serem proferidas palavras, é perfeitamente razoável que se diga que nós sabemos ou não sabemos o que significam; se o sabemos, não foram elas que no-lo ensinaram, apenas o recordaram; se não o sabemos, nem sequer o recordam. Seria então possível aprender conceitos através da linguagem? O que podemos pensar sobre a nossa fala? Ao recorrermos aos sinais para passar conhecimento, nos deparamos com uma impossibilidade de explicar as ideias através da fala, pois precisaríamos de outros recursos sensíveis para tentar expor o que está em nossa mente ou mesmo para explicar objetos, contudo existem conceitos, que independem de objetos para entendermos seu significado, como por exemplo; a palavra virtude, a justiça ou o amor. Poderíamos então dizer que essas palavras não podem ser conhecidas conceitualmente por não termos nenhum acesso sensível a elas, a não ser pelo entendimento de seu conceito.

Santo Agostinho afirma que não podemos aprender através da linguagem, pois a aquilo que é significável é independente da sua palavra, as palavras não indicam o que é, realmente, porque o conteúdo tem de ser conhecido por mim, antes dos signos(letras).
Para Santo Agostinho somente, através da iluminação divina podemos alcançar o conhecimento, sendo assim, pelas palavras alcançamos somente crenças. A teoria da iluminação divina, segundo Agostinho, é o mecanismo através do qual Deus torna o homem capaz de conhecer as coisas. Sendo a iluminação divina algo que age no interior do homem, Agostinho defende que todo conhecimento tem origem em seu intelecto, segue-se que a estratégia adotada para sustentar a tese da iluminação divina será fazer uma análise da cognição humana com a finalidade de desqualificar quaisquer possibilidades de conhecimento externo (pelos sentidos). Esses argumentos são apresentados no livro “Confissões”.
Agostinho parte do princípio de que os homens possuem uma supremacia em relação aos animais devido ao fato de Deus lhes ter dado um mecanismo de acesso ao homem que não seja exclusivamente a alma e os sentidos, que também são encontrados nos animais.Segundo Agostinho Os homens possuem a memória sensível, que funciona como uma espécie de “depósito” onde ficam guardadas todas as impressões da realidade captadas pelos sentidos, porém, ele logo conclui, que as coisas que estão na memória mesmo que possam ser acionadas a qualquer momento por nosso espírito, não podem nos dar o conhecimento sobre a natureza dos objetos apreendido, pois, são apenas “imagens” que estão depositadas lá e não as coisas (objetos apreendidos) em si.
Ainda nas Confissões, é apresentada outra estrutura da memória, a saber, a memória intelectual. Nela estão coisas que não são meramente imagens, lá estão coisas mais reais (verdades matemáticas, conhecimento aprendido nas artes liberais, noções sobre a natureza das coisas apreendidas pela memória sensível, etc.) A memória intelectual em detrimento da memória sensível e graças à iluminação divina é capaz de nos fornecer conhecimento das coisas em sua natureza (causa) e é através dessa análise da cognição humana que Agostinho prova a interioridade do conhecimento, graças à iluminação divina.
A língua como todos os nossos sentidos tem uma função significativa, mas podemos acreditar que consiste em uma fundação do conhecimento? Por outro lado seria ingênuo de nossa parte, ignorar o efeito que as palavras têm para nossa aprendizagem, com isso, como pensar sobre o significado da palavra virtude ou justiça como já foi dito anteriormente, pois apesar de não termos acesso sensível, sabemos a extrema importância de seu significado para a nossa convivência e o nosso crescimento científico e humano. Seriam então as palavras e seus significados gerados em nosso interior iluminado ou em nossas experiências, ou seja, do jogo das palavras e da vida?






 Proposta de Atividade

1)Após a explanação do conteúdo,dividir a turma em dois grupos,o primeiro para defender,que a linguagem pode transmitir conhecimento,e o segundo grupo para defender,que a linguagem não pode transmitir conhecimento.(Com isso os grupos irão argumentar sobre o tema proposto)



Questões

1)Baseando-se nas reflexões de Santo Agostinho.Por que as palavras não podem transmitir conhecimento?
2)Segundo a teoria de Agostinho,Qual a função da linguagem em nosso aprendizado?
3)Se admitirmos que a linguagem não transmite conhecimento,então qual seria a função do professor em uma instituição de ensino?Justifique.
4)Para você,qual o caminho a se percorrer para adquirir conhecimento verdadeiro?











Língua de Gilberto Mendonça Teles

Língua
Esta língua é como um elástico
que espicharam pelo mundo.
No início era tensa,
de tão clássica. 
Com o tempo, se foi amaciando,
foi-se tornando romântica,
Incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira
as expressões mais sisudas. 
Um elástico que já não se pode
mais trocar, de tão gasto;
nem se arrebenta mais, de tão forte. 
Um elástico assim como é a vida
que nunca volta ao ponto de partida. 

No poema de Gilberto Mendonça Teles vê-se que a língua é um elástico, ou seja flexível que sempre molda-se em todo o mundo. No fim do poema o autor ainda utiliza de dois versos para reflexão onde a língua e a vida nunca voltam para seu inicio.


O Movimento Sofista, e seu progenitor


O Movimento Sofista, e seu progenitor [1]




1 – O Movimento Sofista
Surgido por volta do ano V a.e.c, tendo intitulado como propulsor, Protágoras, o movimento sofista vem como resposta abrupta às ideias precedentes, a saber, as construções dos pré-socráticos, ou filósofos da natureza.
Os filósofos da natureza tinham como norte de seus pensamentos a busca pela physis, a natureza das coisas as quais tratavam, as coisas se diziam em relação a esta natureza, que é previamente existente ao objeto, e era trabalho do filósofo tentar apreender esta natureza.
A Sofística surge num momento em que o discurso que procura a fundamentação das coisas, parece já ter usado de todas as armas e munições disponíveis para defender-se e progredir.
Coincidindo também com o estabelecimento do regime democrático, o discurso dos sofistas, não mais se preocupa com questões ontológicas, mas sim com o homem, aqui o homem é o centro do discurso. Por esta razão, o movimento sofista casou-se tão bem com a democracia, ou seja, um regime onde não há uma vontade soberana, a vontade do coletivo é a que deve ser seguida, em resumo, um regime, que assim como a sofística, tem o homem como seu principal objeto.
O que pretendiam então os sofistas? Os sofistas foram os primeiros professores, se assim se pode dizer, tal qual nós os concebemos hoje. Eles eram pagos para ensinar, e seu objeto de ensino era a virtude, ensinada por meio da retórica, chamada de arte do discurso.
Afirmar que a virtude é algo passível de ser ensinado vai de encontro ao modelo aristocrata, anterior à democracia, onde a virtude era privilégio dos bem nascidos, não somente de posses (embora estes pudessem ser também pessoas de posse), mas, sobretudo de sangue, pois, bastava que se pudesse pagar para aprender, logo, a virtude não era mais uma questão de nascimento, qualquer um que pudesse dispor de seu tempo, e eventualmente, de seu dinheiro, poderia com os sofistas aprender a ser virtuoso.
E qual seria então a utilidade de tais ensinamentos? No regime de democracia direta, como era o que vigorava em Atenas, onde se concentrava a maior quantidade de sofistas, a arte do bem falar era de grande utilidade para as assembleias, que poderíamos exemplificar como sendo um campo de batalha, onde os combatentes eram os discursos, e obviamente, o discurso mais forte, ganharia vantagem, ou até mesmo a batalha.
Então, como os sofistas dominavam os discursos, muitos passaram a pagá-los, visando o uso em assembleia, da virtude aprendida com eles.
As críticas aos sofistas não tardaram a chegar, uma vez que, eles eram em sua maioria estrangeiros, e menos dignos de confiança por parte dos atenienses. Além disso, tinha-se a constante preocupação com o surgimento de falsos demagogos, ou seja, aqueles os quais não interessavam a validade, ou justiça do discurso, mas somente o ganho do poder de decisão, e que para tal fim se valeriam dos ensinamentos dados pelos sofistas.
Neste ponto se faz importante salientar que os sofistas possuem uma visão relativista, ou seja, não existe uma verdade absoluta, não existe o certo em si, mas tudo é uma questão interpretativa, um jogo de situações, nada é estático e pronto, qualquer argumento pode receber refutação, basta que se olhe por outro prisma.
Tal posicionamento é claramente uma ameaça a um regime governamental qualquer que seja, e permitir que os alunos dos sofistas façam parte da assembleia era um risco muito grande, pois estes poderiam estar ocupados em pensar somente no ganho da batalha dos discursos, sem se preocupar com a veracidade dos mesmos, ou até mesmo sem acreditar que possa existir uma verdade a ser seguida, um bom direcionamento do qual não se deve desviar o governo de uma cidade.
Em contra partida, existem também rompimentos positivamente significativos feitos pelos sofistas, pois neste momento passa-se a ter uma preocupação muito maior com o homem e os objetos que circundam suas vidas, como a moral, a ética, a política, e todos os assuntos concernentes a nós e nossa meio de convívio. Além disso, vale relembrar a quebra do regime aristocrata, onde só era considerado virtuoso quem nascia com essa marca em seu sangue.

2 Protágoras de Abdera: vida e obra.

Tratar da vida e obra de Protágoras não é assunto fácil, pois tanto sua vida, como seu pensamento, não se mostram com facilidade, e mesmo acerca das coisas mais triviais, como a data de seu nascimento, filiação e cidade natal, não há comum acordo.
Acredita-se que tenha nascido no ano de 486 a.e.c, segundo Diógenes Laércio, era filho de Artemón, porém, há quem não concorde; Apolodoro afirma que Protágoras seja filho de Meandrio, e sobre isso não há um comum acordo entre os historiadores.
Quanto ao lugar onde nasceu parece haver uma maior concordância, afirmam ser Protágoras natural de Abdera. Contudo, Eupolis, um comediógrafo afirma que Protágoras seja natural de Teos, porém, esta não parece ser uma definição acertada, apesar de plausível, uma vez que Abdera foi fundada por jônios de Teos, quando tiveram de abandonar Teos por conta das guerras médias.
Como muitos filósofos da época, foi para Atenas, e para esta afirmação tem-se fontes que comprovam sua estadia, como Platão em seu diálogo sobre Protágoras, e o já citado Eupolis, em uma de suas comédias.
Sua fama atingiu níveis altíssimos, foi citado por diversos autores, e até mesmo Platão admitiu o reconhecimento que Protágoras havia recebido.
No ano de 443 a.e.c, quando tinha cerca de 40 anos, lhe foi encomendada a feitura das leis da cidade de Thurii, e como é sabida, a encomenda das legislações das novas colônias eram feitas a homens de alta estima e extraordinária fama.
Em Atenas conviveu com Péricles, e é inegável a influência que a política tem nas problemáticas levantadas por Protágoras.
Conviveu também com outros célebres sofistas como Górgias, Hippias e Pródico, com os quais intercambiou ideias, e claro, influenciou e foi influenciado.
Em seu livro Sobre os deuses o agnosticismo fortemente demonstrado já nas primeiras linhas, foi de encontro com o pensamento ateniense, que se voltou contra ele.
Acusado de agnosticismo (palavra não existente na época, traduzida por impiedade), segundo Diógenes Laércio por Pitidoro, e segundo Aristóteles por Evatlo.
Considerado culpado, condenado ao exílio, e a ter seus livros queimados em praça pública, o caso de Protágoras mostra, como mesmo a Grécia com seu modelo de democracia e de liberdade dos discursos ainda haviam questões a resolver.
Embarcou para Cecília em cumprimento de sua ordem de exílio, porém, morreu no naufrágio do navio, uns dizem que aos noventa anos de idade, outros afirmam ter sido aos setenta.
Acredita-se que se perdeu uma obra bastante extensa com a queima dos livros de Protágoras, segundo relatos de Diógenes Laércio, em sua época havia cerca de 12 obras.
Porém essa contagem tem alguns problemas, por não incluir duas de suas principais obras, A verdade e Sobre os deuses, alguns acreditam que isso se deve ao fato de essas já estarem perdidas na época de Diógenes, outros, acreditam que na realidade essa enumeração corresponde somente a divisões de uma só obra As Antilogias.
Seja qual for a interpretação correta, certo é que tudo o que se tinha de Protágoras foi perdido, restando somente fragmentos citados por autores posteriores a ele, e referências a suas doutrinas.

3 Fragmento
O homem é a medida de todas as coisas, das que são, que elas são, das que não são, que elas não são.

4 Comentário
Faz-se necessário destacar o fato de que Protágoras compartilhava de uma visão de realidade Heraclítica, ou seja, a realidade é concebida como algo que está em constante movimento.
E ao estar compreendido nessa realidade, tanto os objetos do conhecimento como os próprios sujeitos que conhecem estão se movendo, e este mover-se perpétuo inviabiliza verdades imutáveis, universais e necessárias.
Diante desta concepção de realidade, que nega a existência de verdades absolutas, como é possível que se dê o conhecimento?
A tese do homem-medida vem como resposta a esta questão, como via condutora ao conhecimento.
De que forma? Afirmando que conhecimento não é mais do que percepção, ou seja, dentro deste fluxo conhece-se o que se nos mostra aos sentidos, e no momento em que se mostra.
Por exemplo, quando ao encostar nossa mão em uma garrafa que estava na geladeira, começamos a sentir frio, isso se deve ao fato de que a sensação de frio é gerada através da relação entre, por um lado, o objeto (a garrafa) e, por outro lado, nossa mão.  A mão e o objeto fazem parte do devir, isto é, não são imóveis. A sensação que a mão tem do objeto e a frieza do próprio objeto são dois gêmeos que nascem e morrem um com o outro.
Parece neste momento, que ao ter o contato com o objeto, obtenho a verdade sobre a condição do mesmo, no caso da garrafa, a frieza, porém, engana-se quem escolhe este caminho, o que na realidade acontece, é que pode-se dizer sobre a frieza da garrafa somente naquele momento, pois fora dele, sem o contato, não há como saber se ela é ou não fria, por estar dentro do fluxo, movendo-se, sendo outra a todo momento, e por este motivo é dito, que a sensação que a mão tem do objeto e a frieza do próprio objeto são dois gêmeos que nascem e morrem um com o outro.
E o que dizer então, se Paulo e Ana resolvem, ao mesmo tempo, tocar a mesma garrafa, e Paulo não a sente fria, enquanto Ana, sim?
Isso se dá, pois, não somente a garrafa está imersa na correnteza, que é a realidade, mas também os indivíduos Paulo e Ana, fazendo assim, com que cada um deles tenha disposições diferentes, resultando em conclusões diferentes a cerca do mesmo objeto, não podendo assim haver um juízo comum sobre as coisas.
E sobre aquelas coisas que não se mostram aos nossos sentidos? Sobre essas coisas, nada podemos afirmar, é o caso, por exemplo, dos deuses, para Protágoras, é impossível que se possa afirmar a existência deles, pois, não há nada no campo do sensível que nos comprove tal existência.
Em resumo, a tese do homem-medida parece dizer que o conhecimento, portanto, seria o produto do encontro efêmero entre um dos nossos sentidos e algum elemento transitório no fluxo universal, ou o devir, e fora deste contato não é possível que se conheça nada.




[1] Danielle Ferreira da Rocha, discente do curso de licenciatura em Filosofia da UFRRJ.

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