terça-feira, 10 de abril de 2012

A Questão da Justiça no Livro I da República de Platão

Proposta de material didático:

PIBID de Filosofia - UFRRJ – Eixo Política

Bolsista: Renato Braga Campello

Este texto foi desenvolvido com a finalidade de ilustrar, ainda que sem minúcia, a principal questão presente no livro I da República de Platão: a questão da Justiça e suas conseqüências para Pólis. Assim, o presente texto deve servir como instrumento de trabalho para o PIBID de Filosofia da UFRRJ voltado para o eixo de estudos em Política.

A Questão da Justiça no Livro I da República de Platão

O Livro I da República gira em torno da seguinte questão: “O que é a justiça?”. Para responder a esta pergunta, os interlocutores de Platão, em sua maioria, recorrem aos ensinamentos dos poetas, que se referem à prática de justiça, à aparência de justiça e a aplicam aos seus comportamentos na sociedade, o que preocupa Platão. Pois este defende que devemos nos basear no Ser da Justiça, buscando uma definição que possa ser partilhada por todos os homens.

Todos os argumentos platônicos tinham como interesse o convívio na Pólis, defendendo a ideia de que a Justiça deva ser o princípio das relações políticas dos indivíduos, tratando a mesma como um bem coletivo, e não individual.

No diálogo estabelecido por Sócrates e Trasímaco, percebemos a reflexão sobre o conceito de Justiça. Platão usa seus artifícios dialéticos através da refutação de Sócrates frente aos argumentos dos outros interlocutores, derrubando suas convicções até provar que se tratam de opiniões individuais, sendo meras aparências e não possuem universalidade, muitas vezes usando seu método filosófico caracterizado pela substantivação.

Frente a estes métodos usados por Sócrates nos diálogos estabelecidos entre ele e os demais interlocutores, Trasímaco revolta-se, intervindo na conversa de maneira áspera, pois não admite que Sócrates limite-se em indagar os demais e considera teimosia a maneira que Sócrates refuta as respostas dadas a ele, exigindo que se expresse com clareza e precisão, e defina ele mesmo o que é a Justiça.

Porém, mesmo que insistisse para que Sócrates desse a sua resposta, Trasímaco deixava transparecer seu desejo de se distinguir dos demais, julgando ter uma resposta melhor que as outras. Logo, o próprio Trasímaco se propõe a definir a Justiça, esperando ser aplaudido por Sócrates, afirmando que a justiça é o interesse do mais forte, usando o governo, pois este é considerado o setor mais forte em cada cidade, afirmando que estes fazem as leis para seu próprio benefício, como vemos a baixo:

E cada governo faz as leis para seu próprio proveito: a democracia, leis democráticas; a tirania, leis tirânicas; e as outras a mesma coisa; estabelecidas estas leis, declaram justo, para os governados, o seu próprio interesse, e castiga quem os transgride como violador da lei, culpando-o de injustiça” (338a - e).

Assim, Trasímaco afirma ser justo o que é vantajoso para o governo constituído em cada cidade, e sendo ele, o governo, mais forte em cada cidade, estabelece-se como justo o interesse do mais forte, segundo sua conveniência. Porém, refuta-o Sócrates:

“Uma vez que tu e eu concordamos em que a justiça é algo de conveniente, e que tu acrescentas a esta definição que essa conveniência é a do mais forte, e eu ignoro se é assim, temos de examinar a questão” (339a – e).

Como podemos perceber invés de Sócrates aceitar, ou mesmo abandonar de uma vez o argumento de Trasímaco, ele propõe uma melhor análise das palavras de seu interlocutor até que as contrapõe. E assim o diálogo é marcado pela humildade de Sócrates que, com a persuasão da palavra, refuta Trasímaco, que com sua posição hostil, procurava impor suas opiniões.

Bibliografia:

PLATÃO, A República. 2ª edição. São Paulo: Martin Claret, 2000.

Notas de esclarecimento:

*O uso dos diálogos na obras de Platão tem a função de resgatar as discussões que eram criadas nas praças, casas e demais lugares da cidade. Os embates criados pelos gregos através dos diálogos eram prezados tanto por Sócrates quanto para Platão, pois através destes diálogos acreditava-se que se alcançaria um conhecimento comum que pudesse ser partilhado por todos.

** “Só sei que nada sei”. Sócrates propõe com essa frase não trazer o conhecimento e nem mesmo criá-lo. Mas sim encontrar caminhos no que já existe, esclarecendo problemas e trazendo outros, para assim chegar a um denominador comum.

***Sofística: Na medida em que se dão conta da ‘mágica’ do discurso, cria-se uma especialização dessa arte dando maior capacidade de persuasão aos que possuem o ‘dom’ da palavra. Isto gera conseqüências para a justiça, pois os que podem melhor argumentar podem manipular as pessoas de acordo com seus interesses.

Como proposta de uso deste material, indico a possibilidade de divisão da turma para promover discussões acerca do problema apresentado no texto, estimulando e orientando os alunos para uma boa argumentação. Isto poderia ser feito orientando os alunos a apresentarem argumentos a favor ou contra Sócrates ou Trasímaco a partir do texto.

Ainda como proposta de uso, segue um questionário que possibilite avaliar a apreensão do tema abordado no texto.

Questionário:

1. Por que, para Sócrates, é importante definir o Ser da Justiça de forma que esta possa ser universalizada? Apresente argumentos contra ou a favor da posição de Sócrates.

2. Reconstrua os argumentos de Trasímaco. Em seguida, apresente argumentos contra ou a favor da posição de Trasímaco.

3. Qual a relevância da cultura na educação dos indivíduos? Em outras palavras, até que ponto a cultura influencia em nossos atos e noções acerca do que devemos ou não fazer?

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