PIBID
CAPÍTULO
SOBRE KARL MARX
JOÃO
VITOR LOMEU
VIDA
E OBRA
Karl Marx é um filósofo alemão,
revolucionário que empreendeu uma grande jornada de crítica ao modelo de
desenvolvimento capitalista, apontando para a necessidade de uma revolução
comunista a ser promovida pela classe operária. Em meados do século XIX,
conhece seu fiel amigo intelectual, Friedrich Engels, com o qual escreve a obra
mais fundamental da história do comunismo intitulada O Manifesto do Partido Comunista que, de caráter panfletário, tinha
a pretensão de chegar às mãos e às mentes dos operários de todo o mundo,
indicando-os o caminho para a urgente revolução comunista. Homem de família
próspera economicamente, abriu mão desta riqueza para viajar a Europa em busca
do seu ideal, chegando a viver em condições materiais bem precárias,
precisando, inclusive da ajuda de Engels em momentos mais delicados. Em 1867
publicou o primeiro volume de sua obra magna, intitulado O Capital, refletindo sobre o trabalho, a propriedade privada e as
relações próprias do sistema capitalista, sempre no sentido de propor uma
superação deste modo de produção.
Marx,
com seu materialismo dialético e histórico foi o principal contraponto de Hegel
e seu idealismo alemão. Pretendeu subverter o fazer filosófico, primando pelas
materialidade do mundo, em detrimento do domínio das ideias que ao seu ver, por
si só eram demasiadamente pretensiosas e por isto, inócuas. Neste sentido, Marx
foi capaz – devido a sua originalidade e arrojo em sua proposta de
transformação social – de influenciar muitos intelectuais em todas as partes do
mundo, gerando inclusive o termo “marxista” que muitos encaram de forma
pejorativa em um mundo pós-moderno, dado o vigor de pensadores que seguiram o
pensamento de Marx, tornando-se ortodoxos à sua filosofia.
Marx
vivia um momento em que acreditava que o sistema capitalista estava decaindo,
propiciando um momento oportuno para uma revolução social, política e
econômica. Assim, sua filosofia refletiu sobre muitos conceitos caros a esse
intento, tais como, trabalho, luta de
classes, capital, entre outros. Essas reflexões garantiram-lhe o status de
filósofo comunista e, talvez, o mais marxista entre os marxistas.
TRECHO
DE “A IDEOLOGIA ALEMÔ DE KARL MARX E ENGELS
(Do fim de novembro de 1845 a
meados de abril de 1846)
Não nos daremos, naturalmente, ao
trabalho de esclarecer a nossos sábios filósofos que eles não fizeram a
“libertação” do “homem avançar um único passo ao terem reduzido a filosofia, a
teologia, a substância e todo esse lixo à “autoconsciência”, e ao terem
libertado o “homem” da dominação dessas fraseologias, dominação que nunca o
manteve escravizado. Nem lhes explicaremos que só é possível conquistar a
libertação real [wirkliche Befreiung] no mundo real e pelo emprego de meios
reais; que a escravidão não pode ser superada sem a máquina a vapor e a
Mule-Jenny (máquina industrial da época), nem a servidão sem a melhora da
agricultura, e que, em geral, não é possível libertar os homens enquanto estes
forem incapazes de obter alimentação e bebida, habitação e vestimenta, em qualidade
e quantidade adequadas. A “libertação” é um ato histórico e não um ato de
pensamento, e é ocasionada por condições históricas, pelas con[dições] da
indústria, do co[mércio], [da agricul]tura, do inter[câmbio] [...] e então,
posteriormente, conforme suas diferentes fases de desenvolvimento, o absurdo da
substância, do sujeito, da autoconsciência e da crítica pura, assim como o
absurdo religioso e teológico, são novamente eliminados quando se encontram suficientemente
desenvolvidos. É claro que na Alemanha, um país onde ocorre apenas um
desenvolvimento histórico trivial, esses desenvolvimentos intelectuais, essas
trivialidades glorificadas e ineficazes, servem naturalmente como um substituto
para a falta de desenvolvimento histórico; enraízam-se e têm de ser combatidos.
Mas essa luta tem importância meramente local.
[...] na realidade, e para o
materialista prático, isto é, para o comunista, trata-se de revolucionar o
mundo, de enfrentar e de transformar praticamente o estado de coisas por ele
encontrado.
Em relação aos alemães[1],
que se consideram isentos de pressupostos [Voraussetzungslosen], devemos
começar por constatar o primeiro pressuposto de toda a existência humana e
também, portanto, de toda a história, a saber, o pressuposto de que os homens
têm de estar em condições de viver para poder “fazer história”. Mas, para
viver, precisa-se, antes de tudo, de comida, bebida, moradia, vestimenta e
algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, pois, a produção dos meios
para a satisfação dessas necessidades, a produção da própria vida material, e
este é, sem dúvida, um ato histórico, uma condição fundamental de toda a
história, que ainda hoje, assim como há milênios, tem de ser cumprida
diariamente, a cada hora, simplesmente para manter os homens vivos. Mesmo que o
mundo sensível, como em São Bruno, seja reduzido a um cajado, a um mínimo, ele
pressupõe a atividade de produção desse cajado. A primeira coisa a fazer em
qualquer concepção histórica é, portanto, observar esse fato fundamental em
toda a sua significação e em todo o seu alcance e a ele fazer justiça. Isto,
como é sabido, jamais foi feito pelos alemães, razão pela qual eles nunca
tiveram uma base terrena para a história e, por conseguinte, nunca tiveram um
historiador. Os franceses e os ingleses, ao tratarem da conexão desses fatos
com a chamada história apenas de um modo extremamente unilateral, sobretudo
enquanto permaneciam cativos da ideologia política, realizaram, ainda assim, as
primeiras tentativas de dar à historiografia uma base materialista, ao
escreverem as primeiras histórias da sociedade civil [bürgerliche
Gesellschaft], do comércio e da indústria.
COMENTÁRIO
O
filosofar de Marx: A Filosofia pensou demais e agiu de menos?
Se adotarmos a filosofia de Marx como
modelo de filosofar, podemos toma-la como a mais efetiva da história da
filosofia, ou pelo menos, como a que mais desenvolveu-se em direção a uma
transformação do mundo sensível, ou em termos marxianos, mundo material. O
texto selecionado, bem como toda a obra de Marx, é contundente em sua proposta:
uma filosofia crítica do que fora produzido até então pelos grandes filósofos.
Nesta perspectiva, o filósofo alemão traduz em sua filosofia a sua visão de
mundo, sobretudo a sua visão política e socioeconômica de um mundo que, para ele,
precisa urgentemente de uma revolução operária. No entanto este não é o cerne
das questões que pretendemos suscitar aqui, embora ela perpasse toda e qualquer
inquietação do nosso filósofo. O texto aqui apresentado trata de um assunto
muito caro à nossa ciência, que é a “libertação” dos homens em suas relações
uns com os outros e com o mundo em que vivem. No entanto, essa “libertação
humana” mora em que esfera de nossa existência? Possuindo a autonomia na esfera
do pensamento, ou melhor, tendo a liberdade de pensar, por exemplo, o que
quisermos sobre questões existenciais, políticas ou até mesmo cotidianas,
estaríamos exercendo nossa liberdade? Se pensarmos em um grande representante
do Idealismo Alemão criticado por Marx, Immanuel Kant, somos livres na medida
em que agimos basicamente em função de nossa razão. Mas será que isso basta
para que conquistemos essa tão estimada liberdade? Para os idealistas a
“libertação” do homem encontrava sua morada no domínio da ideia, do pensamento
racional. Sentimo-nos livres, portanto, quando somos racionais?
Marx
parece lançar-se contra essa ideia de liberdade. Para ele, somos seres
históricos e a nossa libertação, por esta razão deve ser um ato histórico e não
simplesmente um ato da razão. Essa ideia de que os homens são seres históricos
condicionados por uma série de domínios como os exemplificados no texto, está
diretamente relacionada com a sua perspectiva de materialismo histórico, isto
é, o filósofo alemão promove uma análise da sociedade – e em última instância do
mundo em que vivemos – a partir das condições materiais em meio as quais os
homens produziram, de maneira coletiva, suas necessidades vitais. Se o primeiro
ato histórico é a “produção da própria vida material” a libertação dos homens
só poderá ser alcançada no domínio da materialidade do mundo, isto é, os homens
devem empreender um movimento de transformação em suas práticas sociais,
políticas e econômicas, se quiserem conquistar a tão almejada libertação. Esse
deslocamento proposto por Marx, do idealismo para a materialidade é, sem
dúvida, uma grande revolução na história da filosofia, sobretudo porque o
Idealismo alemão havia alcançado um sólido status conceitual.
Cabe
ressaltar que Marx, durante toda a sua produção filosófica, se afirmava um
comunista e pretendeu – com o vigor que o tornou o mais célebre filósofo
revolucionário da história – promover uma revolução comunista no século XIX.
Assim, é impossível dissociar qualquer reflexão do filósofo, deste objetivo
revolucionário que ele tinha. Digo isto, para problematizarmos uma questão:
Esta libertação do homem, alcançada com muito empenho nas atividades cotidianas
do mundo material, nas relações sociais, trabalhistas ou políticas está na base
disto que chamamos de revolução comunista. Ora, se os homens são livres,
possuem relações mais humanas entre si (e com a natureza) e conseguem assim
superar todas as suas necessidades que os tornam capazes de “fazer história” e
serem capazes de se tornarem agentes ativos de suas próprias vidas, podemos
vislumbrar, enfim, um novo modelo de sociedade: uma sociedade menos antagônica,
onde não há relação de exploração entre quem possui os meios de produção e os
que apenas possuem força de trabalho. Posto isto, inverto a questão proposta
anteriormente: satisfazer nossas necessidades no domínio da materialidade e
superar os antagonismos socioeconômicos do mundo é o que garante a nossa
libertação? Grosso modo, podemos dizer que a sociedade comunista projetada por
Marx, seria uma sociedade igualitária, justa, sem exploração e planificada
economicamente e, por estas razões, uma sociedade constituída essencialmente
por homens livres. No entanto, é possível conceber uma sociedade, ainda que
planificada em suas esferas materiais, igualitária no domínio do pensamento? A
superação de uma sociedade economicamente antagônica refletiria em uma
superação das diferenças no mundo da razão humana? A determinação da nossa
liberdade é antes uma questão prática do que ideal?
Por
fim, é interessante salientar uma grande marca do pensamento marxiano que diz
que a infraestrutura condiciona a superestrutura, em termos genéricos, que a
base material das relações econômicas (infraestrutura) determina o domínio das
ideias (superestrutura). Esse esquema é fundamental para compreender a
filosofia de Marx, visto que, em síntese, ele quer dizer que o que é anterior é
a práxis humana e não o pensamento como acreditou e professou o Idealismo
alemão. A crítica de Marx à tradição filosófica traduz-se na célebre frase que,
porventura, você já pode ter lido em algum lugar que diz: “Os filósofos até o
momento só fizeram interpretar o mundo, o mais importante não fizeram, que é
transformá-lo”. E então, Marx tem razão? Pensamos muito num mundo em que não
quisemos transformar?
ATIVIDADES
Questionário
objetivo básico:
1.
Em linhas gerais, em que consiste a crítica marxiana ao Idealismo alemão?
2.
No que consistiria a liberdade do homem para Marx e como essa liberdade
refletiria em um novo modelo de sociedade?
3.
As reflexões de Marx possui um objetivo comum, para o qual toda a sua filosofia
converge. Que objetivo seria esse? Por que ele deveria ser alcançado?
Proposta
de atividade:
[1] Marx está se referindo aos
alemães que desenvolveram o que denomina-se “Idealismo Alemão” que tem como
representantes Hegel, Kant e, numa transição desse Idealismo para um
materialismo histórico de Marx, situa-se Feuerbach, o principal interlocutor de
Marx nessa obra.
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