quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Santo Agostinho- De Magistro (Do Mestre)



Santo Agostinho- De Magistro (Do Mestre)

Vida e obra
Santo Agostinho é uma das figuras mais importante da filosofia medieval, porque seus estudos filosóficos e teológicos tentavam alcançar a harmonia entre essas duas vertentes. Aurélio Augusto (Santo Agostinho) nasceu em Tagaste, Norte da áfrica, no ano de 354 da era cristã. Sua mãe Mônica era uma cristã fervorosa, tornando-se santa padroeira das associações das mães cristãs, seu pai,Patrício,era um proprietário de terras, pagão. Agostinho começa os primeiros estudos em Tagaste e Madaura,seu pai esforçou-se para dar uma educação liberal,pois abriria portas para a magistratura.Foi para Cartago capital da África Romana aos 17 anos para estudar,porém era um aluno que faltava aula sem motivo,e odiava a língua grega,sua adolescência foi marcada por ações desaprováveis. Mas uma união amorosa com uma mulher que os padrões da época não permitiam seria a ação mais desaprovável por todos, desta união nasce seu filho Adeodato que morre em sua adolescência.
Antes dos vintes anos, faleceu seu pai e Agostinho assumiu a chefia de duas famílias, abriu uma escola em Tagaste, mas logo volta para Cartago.Contudo resolveu depois de dez anos ir para Roma, para encontrar alunos mais tranquilos, o que Agostinho não sabia era que estava fazendo a viagem para sua conversão. Quando chegou em Roma, dirigiu-se a Milão para a residência imperial,onde  trabalhou como professor de retórica.
Agostinho vivia buscando resposta para o sentido da vida, com suas crises existenciais e intelectuais, conheceu as concepções da academia platônica com isso o neoplatonismo (O neoplatonismo era visto como uma doutrina que, com ligeiros retoques, parecia capaz de auxiliar a fé Cristã a tomar consciência da própria estrutura interna e defender-se com argumentos racionais, elaborando-se como teologia) e a muito já havia abandonado o maniqueísmos (Maniqueus afirmavam a existência absoluta de dois princípios, o bem e o mal,a luz e as trevas).Sua conversão teria influencia de sua mãe sempre devotada, santo Ambrósio que o ensinou a usar a bíblia de forma correta e São Paulo, pois  Agostinho, quando ouve um canto infantil no seu jardim,o canto era as palavras do apóstolo Paulo(‘tolle,lege,tolle lege),depois disso Agostinho se converte a fé cristã, sua mãe falece alguns meses depois em 387.Santo Agostinho falece no dia 23 de agosto de 430.
Agostinho escreveu 113 obras, mais 270 cartas e 390 sermões, dentre suas obras destacam-se, Contra os Acadêmicos, Solilóquios,Do Livre Arbítrio,De Magistro, Confissões,A Cidade de Deus e as Retratações.
 A obra De Magistro será a que tomaremos como investigação, escrita em diálogo, tem como personagens Santo Agostinho e seu filho Adeodato, onde discutem a questão da linguagem,sobre os objetivos dos signos linguísticos e da fala,onde num primeiro momento refere-se a linguagem humana para depois refletir sobre a linguagem interior.

Trecho
De Magistro
CAPÍTULO XI
Não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente,
mas pela verdade que ensina interiormente.

AGOSTINHO— Até aqui chega o valor das palavras, das quais, porque quero atribuir-lhes muito, direi que apenas incitam a procurar as coisas, sem., porém mostrá-las para que as conheçamos. No entanto, ensina-me algo quem apresentar diante dos meus olhos ou a um dos sentidos do corpo ou também à própria mente as coisas que quero conhecer.
Com as palavras não aprendemos senão palavras; antes, o som e o ruído das palavras, porque, se o que não é sinal não pode ser palavra, não sei também como possa ser palavra aquilo que ouvi pronunciado como palavra enquanto não lhe conhecer o significado. Só depois de conhecer as coisas se consegue, portanto, o conhecimento completo das palavras; ao contrário, ouvindo somente as palavras, não aprendemos nem sequer estas.

Com efeito, não tivemos conhecimento das palavras que aprendemos nem podemos declarar ter aprendido as que não conhecemos, senão depois que lhes percebemos o significado, o que se verifica não mediante a audição das vozes proferidas, mas pelo conhecimento das coisas significadas. Ao serem proferidas palavras, é perfeitamente razoável que se diga que nós sabemos ou não sabemos o que significam; se o sabemos,
não foram elas que no-lo ensinaram, apenas o recordaram; se não o sabemos, nem sequer o recordam, mas talvez nos incitem a procurá-lo.
Portanto, creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço.



Comentário:
O que podemos aprender com a linguagem?
No Livro De Magistro de Santo Agostinho, o filósofo propõe uma discussão acerca da linguagem e dos signos linguísticos, no capítulo XI mais especificamente, Agostinho aponta á impossibilidade de transmitir conhecimento através da linguagem, porque segundo ele, “por palavras não aprendemos senão palavras; antes o som e o ruído das palavras, porque o que não é sinal não pode ser palavra”, ou seja, para entendermos o significado das palavras temos que ter acesso antes ao objeto, e mesmo que conhecemos o objeto, o som não reproduz o seu significado, muito menos a imagem consegue manifestar o significado do objeto, e precisaríamos de outros aparatos  para conhecê-lo, porém, que efeito teria então a linguagem para a constituição de conhecimento de objetos e conceitos de palavras?
Antes devemos pensar se conhecemos o conceito de alguma palavra, como por exemplo: mesa sabemos seu significado, se expressa em outra língua terá o mesmo significado, mas se não entendermos a língua será como ouvir um som sem significado, isso nos faz pensar se o conhecimento parece nos advir mesmo da língua? Contudo a palavra mesa indica um objeto que temos contato e pode ser indicada de alguma maneira a nós por sua forma sensível.
Ao saber disso, podemos acreditar então, que os signos linguísticos as palavras e seus complexos, são formas de expressar as ideias?  As palavras nos possibilita a transmissão de crença ou conhecimento?
Nossos sentidos estão a todo o momento tentando captar evidências exteriores, para que a mente construa interiormente o que chamamos de saber, porém para Agostinho os sentidos são insuficientes para alcançarmos uma reflexão verdadeira de conhecimento, o filósofo diz: não tivemos conhecimento das palavras que aprendemos, nem podemos declarar ter aprendido as que não conhecemos. Teríamos então a possibilidade de conhecer através de aparatos exteriores á mente? Para a grande maioria ensinar e aprender implica em um discurso, onde as informações fornecidas nos levariam á ter conhecimento de algo, porém quando alguém expõe um saber, algumas pessoas, entendem mais rapidamente ou  até melhor do que outras,o que nos leva a pensar, que talvez, além da atenção dada ao discurso, usamos além disso nossas experiências e também conteúdos antes estudados ou ainda que no momento da aprendizagem estamos mais  pré-dispostos a compreender.

Ao serem proferidas palavras, é perfeitamente razoável que se diga que nós sabemos ou não sabemos o que significam; se o sabemos, não foram elas que no-lo ensinaram, apenas o recordaram; se não o sabemos, nem sequer o recordam. Seria então possível aprender conceitos através da linguagem? O que podemos pensar sobre a nossa fala? Ao recorrermos aos sinais para passar conhecimento, nos deparamos com uma impossibilidade de explicar as ideias através da fala, pois precisaríamos de outros recursos sensíveis para tentar expor o que está em nossa mente ou mesmo para explicar objetos, contudo existem conceitos, que independem de objetos para entendermos seu significado, como por exemplo; a palavra virtude, a justiça ou o amor. Poderíamos então dizer que essas palavras não podem ser conhecidas conceitualmente por não termos nenhum acesso sensível a elas, a não ser pelo entendimento de seu conceito.

Santo Agostinho afirma que não podemos aprender através da linguagem, pois a aquilo que é significável é independente da sua palavra, as palavras não indicam o que é, realmente, porque o conteúdo tem de ser conhecido por mim, antes dos signos(letras).
Para Santo Agostinho somente, através da iluminação divina podemos alcançar o conhecimento, sendo assim, pelas palavras alcançamos somente crenças. A teoria da iluminação divina, segundo Agostinho, é o mecanismo através do qual Deus torna o homem capaz de conhecer as coisas. Sendo a iluminação divina algo que age no interior do homem, Agostinho defende que todo conhecimento tem origem em seu intelecto, segue-se que a estratégia adotada para sustentar a tese da iluminação divina será fazer uma análise da cognição humana com a finalidade de desqualificar quaisquer possibilidades de conhecimento externo (pelos sentidos). Esses argumentos são apresentados no livro “Confissões”.
Agostinho parte do princípio de que os homens possuem uma supremacia em relação aos animais devido ao fato de Deus lhes ter dado um mecanismo de acesso ao homem que não seja exclusivamente a alma e os sentidos, que também são encontrados nos animais.Segundo Agostinho Os homens possuem a memória sensível, que funciona como uma espécie de “depósito” onde ficam guardadas todas as impressões da realidade captadas pelos sentidos, porém, ele logo conclui, que as coisas que estão na memória mesmo que possam ser acionadas a qualquer momento por nosso espírito, não podem nos dar o conhecimento sobre a natureza dos objetos apreendido, pois, são apenas “imagens” que estão depositadas lá e não as coisas (objetos apreendidos) em si.
Ainda nas Confissões, é apresentada outra estrutura da memória, a saber, a memória intelectual. Nela estão coisas que não são meramente imagens, lá estão coisas mais reais (verdades matemáticas, conhecimento aprendido nas artes liberais, noções sobre a natureza das coisas apreendidas pela memória sensível, etc.) A memória intelectual em detrimento da memória sensível e graças à iluminação divina é capaz de nos fornecer conhecimento das coisas em sua natureza (causa) e é através dessa análise da cognição humana que Agostinho prova a interioridade do conhecimento, graças à iluminação divina.
A língua como todos os nossos sentidos tem uma função significativa, mas podemos acreditar que consiste em uma fundação do conhecimento? Por outro lado seria ingênuo de nossa parte, ignorar o efeito que as palavras têm para nossa aprendizagem, com isso, como pensar sobre o significado da palavra virtude ou justiça como já foi dito anteriormente, pois apesar de não termos acesso sensível, sabemos a extrema importância de seu significado para a nossa convivência e o nosso crescimento científico e humano. Seriam então as palavras e seus significados gerados em nosso interior iluminado ou em nossas experiências, ou seja, do jogo das palavras e da vida?






 Proposta de Atividade

1)Após a explanação do conteúdo,dividir a turma em dois grupos,o primeiro para defender,que a linguagem pode transmitir conhecimento,e o segundo grupo para defender,que a linguagem não pode transmitir conhecimento.(Com isso os grupos irão argumentar sobre o tema proposto)



Questões

1)Baseando-se nas reflexões de Santo Agostinho.Por que as palavras não podem transmitir conhecimento?
2)Segundo a teoria de Agostinho,Qual a função da linguagem em nosso aprendizado?
3)Se admitirmos que a linguagem não transmite conhecimento,então qual seria a função do professor em uma instituição de ensino?Justifique.
4)Para você,qual o caminho a se percorrer para adquirir conhecimento verdadeiro?











Língua de Gilberto Mendonça Teles

Língua
Esta língua é como um elástico
que espicharam pelo mundo.
No início era tensa,
de tão clássica. 
Com o tempo, se foi amaciando,
foi-se tornando romântica,
Incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira
as expressões mais sisudas. 
Um elástico que já não se pode
mais trocar, de tão gasto;
nem se arrebenta mais, de tão forte. 
Um elástico assim como é a vida
que nunca volta ao ponto de partida. 

No poema de Gilberto Mendonça Teles vê-se que a língua é um elástico, ou seja flexível que sempre molda-se em todo o mundo. No fim do poema o autor ainda utiliza de dois versos para reflexão onde a língua e a vida nunca voltam para seu inicio.


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