Lisane Irala
Vida
e Obra
Immanuel Kant
nasceu no dia 22 de abril de 1724 em uma pequena cidade da Alemanha chamada
Konigsberg, era o quarto irmão de uma família de onze filhos, seu pai era um
humilde artesão e sua mãe era conhecida como uma mulher profundamente
religiosa. Teve uma vida metódica, dedicou-se exclusivamente às atividades
intelectuais, não casou nem teve filhos e faleceu em 12 de fevereiro de 1804 sem
nunca ter saído da cidade natal.
Começou sua carreira acadêmica ensinando ciências
naturais, desenvolveu estudos sobre teologia, física, matemática, geografia, mas
destacou-se nos estudos filosóficos. Para Kant filosofia é “a ciência da
relação de todo o conhecimento e de todo uso da razão com o fim último da razão
humana”[1].
Seu pensamento é norteado por quatro questões fundamentais: 1 – O que posso
saber? 2- O que devo fazer? 3- O que
posso esperar? 4- O que é o homem? Cada
pergunta abrange um campo específico da filosofia kantiana, são eles, respectivamente:
metafísico e epistemológico; ético; religioso; e a última questão diz respeito ao
objeto da antropologia, ou seja, refere-se ao horizonte a partir de onde e em
relação a qual tudo é pensado.
O filósofo alemão é considerado o
último pensador do período moderno (Século XV – Século XVIII) e o maior
representante do Iluminismo,[2]
destacou-se, sobretudo por ser um
filósofo critico. Suas principais obras foram: Crítica da razão pura (1781), Fundamentação
da metafísica dos costumes (1785), Crítica da razão prática (1788) e Crítica do
Juízo (1790).
Os
trechos a seguir foram retirados do artigo Resposta
à pergunta: Que é “Esclarecimento”? (Aufklärung) publicado em dezembro de
1783 na Revista Berlinische Monatsschrift.
[1] Em sua lógica (Jäsche) (Intr. Cap. III, Ak25).
[2] Iluminismo -
*
Texto:
“Pergunta
à Resposta: O que é esclarecimento (Aufklärung)?”
Trecho1:
“Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do
homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a
incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro
indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não
se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de
servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de
fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento
[Aufklärung].
A preguiça e a covardia são as
causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de
há muito os libertou de uma direção estranha, continuem no entanto de bom
grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que
é tão fácil que os outros constituam em tutores deles. É tão cômodo ser
menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor
espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a
respeito de minha dieta, ect., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não
tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se
encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A imensa maioria da
humanidade considera a passagem à maioridade difícil e além do mais perigosa,
porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a supervisão dela.
Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado
cuidadosamente estas tranquilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo
fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes
em seguida o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este
perigo na verdade não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar
finalmente, depois de algumas quedas. Bata um exemplo deste tipo para tornar
tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras tentativas
no futuro”
|
Trecho
2:
“Para este esclarecimento [Aufklärung], porém nada mais se exige senão
LIBERDADE. E a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar
liberdade, a saber: a fazer um uso público de sua razão em todas as questões.
Ouço, agora, porém, exclamar de todos os lados: não raciocineis! O oficial
diz : não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama: não
raciocinei, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciones, mas crede! (Um
único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que
quiserdes, mas obedecei!) Eis aqui por toda parte a limitação da liberdade.
Que limitação, porém, impede o esclarecimento [Aufklärung]? Qual não impede,
e até mesmo favorece? Respondo: o uso público de sua razão deve ser sempre
livre e só ele pode realizar o esclarecimento [Aufklärung] entre os homens
uso.”
|
Comentário:
“Somos livres para fazermos nossas
escolhas?”
O
filósofo alemão inicia o texto definindo dois termos: esclarecimento e menoridade. - “Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do
homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”. - Mas afinal, o
que podemos entender por Esclarecimento? O
termo filosófico em alemão, Aufklärung, agrega
diversas traduções, já foi definido por “iluminismo”, “ilustração”, “filosofia
das luzes” e “liberdade”, mas nenhuma delas corresponde de maneira satisfatória,
talvez a palavra “esclarecimento” seja a melhor definição, pois traduz o
aspecto essencial do termo Aufklärung, que
é um processo do uso da razão humana para sair da condição de menoridade. Mas afinal, o que podemos
entender pelo que Kant chama de menoridade?
Estaria Kant fazendo referência à
todas aquelas crianças e jovens menor de idade?
- “A menoridade é a incapacidade
de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo.” – pelo o
que podemos perceber o termo menoridade
não está associado à idade cronológica
do individuo, mas sim à ideia de menor, de ser incapaz, refere-se, portanto a
submissão do pensamento, ou seja, a capacidade de sair da condição submissa e
praticar o uso do seu entendimento a partir de si próprio sem depender que
outro individuo direcione o seu pensamento.
A
partir disso, nos deparamos com a seguinte questão: se para alcançarmos o esclarecimento precisamos sair dessa
condição de menoridade, por que
simplesmente não saímos e passamos a pensar por nós mesmo? De acordo com o
texto nos somos culpados de estarmos nessa situação e não saímos dela por preguiça
e covardia. E agora? Será que somos mesmos tão covardes e preguiçosos? E por
medo e indisposição que abrimos mão da nossa liberdade? Segundo Kant, existe outra
razão para a menoridade ser mantida, deve-se as ações dos tutores frente
aqueles que não ousam saber – “Sapere aude”, pois a incapacidade provocada pela
preguiça e covardia de pensar por conta própria, facilita o campo de ação dos
tutores, de modo que eles facilmente assumem o controle e ditam-lhe as regras.
Afinal, quem são os tutores? Por que eles existem? Precisamos deles?
Immanuel Kant assume não ser fácil
alcançar a maioridade, afinal, os
indivíduos não estão acostumados a pensar sozinhos, mesmo ainda, em direção à
emancipação, não estão habituados ao movimento livre, por isso não ousam
aprender a andar, afinal sentem medo de tropeços e quedas, Kant não descarta a
possibilidade de quedas, mas assegura que nos sentiríamos seguros e prontos
para fazer uso do próprio entendimento. E afirma que o primeiro-passo para o esclarecimento é a liberdade, e desse
modo, dificilmente o público não procure o caminho do conhecimento. O
segundo-passo é o uso da razão, que é
utilizado por aquele que goza de ilimitada liberdade, é capaz de fazer uso de
sua própria razão, falar em seu nome, de maneira que a razão possa ser dirigida
para um público amplo e assim realizar o esclarecimento entre os homens. Então,
somos livres? Somos esclarecidos? Podemos dizer que o a liberdade e esclarecimento são possíveis?
Atividades
1-
Responda
as questões abaixo:
a)
O
que podemos entender por “menoridade”?
b)
O
homem é ou não culpado por continuar na menoridade?
c)
É
um dever sair da menoridade?
d)
É
por preguiça e covardia que o homem continua na menoridade?
2-
Atividade
em grupo
“Como me divirto?”
A atividade consiste em construir
um quadro de programação para o fim de semana, a partir de recortes de jornais e
argumentar o por quê das escolhas.
“Eu
escolho como me divirto?”
Por que não escolher outros tipos
de eventos? O que influência minha escolha? Quem são meus tutores?
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