domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ciberespaço – um novo espaço de sociabilidade, gerador de novas formas de relações sociais.

Temos como conceito básico de ciberespaço, na compreensão do escritor de ficção cientifica o norte-americano Willian Gibson, como o termo que designa “todo o conjunto de rede de computadores nas quais circulam todo tipo de informação, é o espaço não físico constituído pelas redes digitais”. Este termo criado então por Gibson foi utilizado pela primeira vez em 1984 em seu Romance Neuromancer[1].
            Com Pierre Lévy, temos a definição de Ciberespaço (que também o chama de rede) como sendo “o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”.
            Assistimos através de tais definições e da dimensão na qual atualmente o ciberespaço vem atingindo, uma necessária adequação da sociedade, visando uma melhor sintonia com as chamadas “redes” a fim de estarmos atualizados, investigando e simultaneamente disseminando informação. Onde houver troca de conhecimento, haverá certamente maior mobilidade de informações, aproximando pessoas, explicitando questionamentos e abrindo espaço para um debate público e horizontal.
            A partir destas considerações, varias formas de entendimento sobre o que pensamos ser estas novas tecnologias são externadas. Por vezes de forma errônea e catastrófica, entendendo o ciberespaço como um lugar “não-real”, onde os indivíduos se hiper-individualizam em suas cavernas contemporâneas; e o “real” (relação/dialogo presencial) já não parece competir igualmente com a relação “virtual” obtida através de personagens criados a cada instante, onde a troca simultânea de informações e até mesmo a sua própria despersonalização lhe parece mais satisfatória, dizemos então que esta nova forma de sociabilidade é maléfica. Talvez, por julgarmos os fatos sem nos dedicarmos a estudá-los e daí então discursarmos equivocadamente.
            Lembrando o romance de Gibson (Neuromancer) onde o mesmo relata a história do protagonista Case que em meio a uma série de venturas e desventuras relaciona-se com outros humanos e com máquinas através da rede de computadores que compõem o Ciberespaço, vivendo uma realidade virtual, mas não por isso menos “real”. Pensamos através deste exemplo dizendo que este espaço de interconexão é muito mais que um meio de comunicação; se apresenta atualmente com um caráter muito ampliado, proporcionando aos indivíduos um palco de diferentes representações e práticas societárias. Mas como definir então o que é real e virtual, se salientarmos que estas redes telemáticas proporcionam relações de sociabilidade?
            Para Pierre Lévy “o virtual não se opõe ao real, mas sim o complementa e o transforma”. Sendo assim o virtual não seria o oposto do real, mas sim uma esfera singular da realidade, em que formas diferenciadas de interações sociais acontecem, transformando e ampliando a interação entre os mesmos. A partir desta troca entre os membros destas comunidades virtuais, teríamos não uma relação de superficialidade e ilusão, visto que o virtual não pode ser confundido ao ilusório, ao fantasioso, como é no entendimento de alguns. Pois desterritorializar-se[2] é também permitir o intercambio de conhecimentos, e longe, aqui, de um entendimento de perda de identidade, devemos entender o ciberespaço como um espaço dinâmico, que encurta as distancias possibilitando desenvolvimento e transformações numa dimensão socioeducativa, por exemplo.
            Logo, poderíamos pensar apocalipticamente o ciberespaço?
            O tom a cerca deste discurso ainda se faz confuso e divide opiniões. Porém é necessário que entendamos o que é o Ciberespaço, e qual sua função seja ela política, econômica ou cultural. Pois a prostração frente a estas mídias, sem que também nos questionemos sobre sua função social pode levar-nos a uma aceitação do “todo” sem a compreensão devida. Sabendo que o ciberespaço é conceituado como um instrumento globalizante, logo precisaremos distinguir as mensagens e não nos tornarmos discípulos de tendências dominantes.
            Destarte, a importância de salientarmos as transformações perceptíveis que vão se manifestando no comportamento dos indivíduos, e que esta mudança indique não apenas um conhecimento trivial sobre a importância destas novas mídias, mas que a mudança sugira intervenção dos mesmos com a coisa. Pois como diz Lévy, “o ciberespaço representa um estágio avançado de auto-organização social, ainda que em desenvolvimento - a inteligência coletiva -. O Ciberespaço aparece como um espaço do saber, em que o conhecimento é o fator determinante e a produção contínua de subjetividade é a principal atividade econômica.”.
            Contudo, este novo referencial de espaço, marcado por um tipo de sociabilidade própria, gerador de novas formas de relações sociais esta aí para que pensemos e possamos rever os valores humanos e tão logo percebamos a amplitude de transformações, estas conseqüentes de produções humanas. Por fim, fica uma reflexão a se fazer: a ausência de valores éticos e morais podem ser um dos grandes problemas a se pensar, como leitor, usuário do ciberespaço e indivíduo inserido num novo tempo e num novo espaço social.









[1] Livro de ficção científica que introduziu novos conceitos para a época. Onde trata de uma realidade que se constitui através da produção de um conjunto de tecnologias, enraizadas na sociedade, e que acaba por modificar estruturas e princípios desta e dos indivíduos que nela estão inseridos.
[2] Termo aqui utilizado no sentido de fluxo e de hibridismo cultural. Sem estarmos descartando o fato de as novas tecnologias moveis fomentarem também processos de reterritorializações. Visto que neste texto não levamos em conta a historicidade da palavra e evolução do seu conceito e contexto.

Por Patrícia Boeira - graduanda em Filosofia pela UFRRJ, e componente do grupo PIBID

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